20 de abril de 2008

Se fosse pra ficar na sombra, eu teria ficado em casa!



Texto de Rosana Braga ::
Há alguns meses, estive na praia de Ipanema, na linda Rio de Janeiro. Verão intenso, muita gente se divertindo e, sentados na areia, um pouco adiante de mim, três pessoas conversavam animadamente.
Uma delas era um rapaz que, por conta de um detalhe, destoava da grande maioria ao redor: embora fosse por volta do meio dia e o calor estivesse escaldante, ele não estava se protegendo do sol.
A certa altura, aproximou-se o moço que alugava esse tipo de acessório e ofereceu:- Você quer que eu lhe traga um guarda-sol?!? E ele, muito à vontade na situação em que estava, respondeu quase que indignadamente:- Meu caro, se fosse pra ficar na sombra, eu teria ficado em casa!
Num primeiro momento, tanto o tom da voz dele quanto a convicção de sua decisão em permanecer sob o sol soaram quase como uma piada para mim. Mas agora, depois de passado todo esse tempo, comecei a me dar conta de quantos diferentes significados aquela frase foi ganhando.
Passei a, repetidas vezes, não só me lembrar, como também a criar metáforas para a tal assertiva. “Ficar na sombra” é, na linguagem da psicologia, manter-se na inconsciência; é como aquela parte do iceberg que fica debaixo d’água, invisível aos navios, podendo provocar graves acidentes.“Ficar na sombra” também quer dizer não se expor, não enfrentar determinada condição como ela é. E, no caso de lançar mão de um acessório para se proteger ou se esconder, é ainda uma estratégia para não ter de lidar com algo que pode estar incomodando, ainda mais se sua intensidade for grande.
Claro que, no caso real, é indiscutível que uso de protetor solar e do guarda-sol são extremamente indicados e benéficos à saúde; mas meu intuito não é julgar a escolha do rapaz e sim refletir sobre o impacto que a afirmação tão convicta dele me causou. Fez com que eu pensasse quantas vezes a gente prefere ficar mergulhado na sombra a sair de casa e ir à luta, ou “dar a cara à tapa” como diz o ditado popular.Quantas vezes preferimos uma falsa segurança - ainda que escura e nebulosa - ao risco, à possibilidade de tentar. E - pior! - quantas vezes saímos de casa e, ao sentirmos o calor do sol, ou seja, a chance de viver plena e intensamente uma oportunidade que a vida nos apresenta, corremos em busca de uma sombra, assustados, inseguros.
Preferimos nos omitir a expressar o que pensamos, o que sentimos, o que queremos. E assim, de sombra em sombra, tentando nos esquivar da condição real, vamos perdendo chances incríveis de realizar um sonho, de ocupar um cargo há tempos desejado, de experimentar um amor, de desbravar o desconhecido e, enfim, de nos transformar numa pessoa melhor...Talvez esteja aí a resposta para tantas atrocidades sendo cometidas, para tamanho mal-estar que tem rondado o planeta de um modo geral: muita sombra imposta sobre lugares, pessoas e situações onde poderia estar brilhando o sol.
Muita escuridão onde poderia estar inundado de luz. Muita inconsciência onde bastaria um pouco mais de coragem, um pouco mais de disponibilidade ou simplesmente o exercício de nossa verdadeira humanidade.
Portanto, a conclusão a que chego quando me lembro daquela intrigante frase do rapaz da praia de Ipanema - “Se fosse pra ficar na sombra, eu teria ficado em casa!” - é a seguinte: que fechemos nossos guarda-sóis, que paremos de inventar tanta sombra para nos proteger ou nos esconder do que está aí para ser vivido... e que sejamos, deste modo, bem mais audaciosos quando o convite for para a vida, para o bem e para o amor!

Cuidando da Relação



Acho que podemos concordar com a idéia de que todas as relações humanas inspiram cuidados. Desde que tenhamos bem claro o que significam estes cuidados.

O amor, assim como todas as relações, não vem pronto, muito menos acompanhado de uma bula ou de um relatório de como se relacionar com um outro ser. Cada um de nós tem a sua individualidade, recebeu uma criação diferente, viveu histórias próprias e reage às situações da vida de modo completamente distinto.
Assim, quando duas ou mais pessoas se unem numa família, numa relação de amor e até mesmo de trabalho, surgem os conflitos de interesses, formas de pensar e idéias peculiares em relação à vida.
Cada ser humano é um mundo diverso. Você já deve conhecer histórias de filhos de uma mesma mãe e pai que são criaturas totalmente diferentes. As famílias grandes comprovam essa teoria. E não são poucas as histórias que ouço de pessoas que se dizem preteridas em relação ao amor que a mãe ou o pai dispensava para um outro irmão.
Quando recebo alguém muito infeliz com suas relações, sempre pergunto se a pessoa está pronta para trazer a responsabilidade do desafeto para uma visão mais espiritual. Sim, porque essa não é uma questão fácil para se ver.
Todos queremos o amor que flui do coração com harmonia, as conversas que acontecem sem um duplo sentido de interpretação ou de visão, um carinho que de fato aconchega. Esse é o ideal de um amor. Algo leve, suave e tranqüilo, mas na realidade poucas são as relações que geram esse tipo de energia.
Na maioria das vezes, as histórias são tensas, as pessoas ficam procurando as palavras que exprimam o que sentem ou em alguns casos se escondem para não mostrar fragilidade numa couraça, revelando que pouco se importam com aquilo que estão recebendo do parceiro.
Por isso, afirmo que não é fácil olhar para a nossa vida e para nossas relações de mente e coração aberto. Temos medo de nos ferir ainda mais com as respostas que por ventura venhamos encontrar. Ao mesmo tempo queremos demais uma solução para a dor.
Sempre pergunto aos meus clientes: O que veio primeiro o ovo ou a galinha???Sim, o que veio primeiro, você com sua forma de ser e de agir, como um espírito com suas tendências e necessidades de aprendizado ou uma família ou ainda relações que trazem dificuldades???
Somos nós que criamos o mundo à nossa volta ou esse mundo é um espelho daquilo que trazemos dentro de nós e de alguma forma manifestamos?
Se colocar na situação de vítima em pleno 2008 não tem muito cabimento. Nossa humanidade já evoluiu bastante para ver que temos uma ação em tudo o que nos acontece. As crianças pequenas aprendem na escola que se jogamos o lixo na rua, os bueiros ficarão entupidos, o lixo se espalhará nos recantos e nós ficaremos no meio da sujeira.
Por que não transferimos essa compreensão para nossa intimidade? Por que nas nossas relações não agimos cuidando das pessoas e de nós mesmos de forma amorosa compreendendo os limites das pessoas? Por que exigimos dos outros aquilo que muitas vezes as pessoas não podem nos dar em troca porque não tem dentro de si?Por que nos humilhamos tentando consertar as pessoas que não querem ser consertadas, por que nem sequer estão interessadas em olhar para os seus erros?
O tempo todo estamos procurando uma felicidade perfeita fora de nós e entendemos Deus como uma coisa das religiões e não como um força interna, uma luz que nos ilumina, uma energia que nos direciona para uma abertura em nossa mente?Cuidar das relações começa e termina em cuidar de si mesmo, de aprender com as experiências da vida e, definitivamente, sair do papel de vítima.
Pode ser que as questões que você enfrenta hoje sejam de fato difíceis e que você se sinta fraco, cansado e sem vontade de continuar. Mas, meu amigo, o caminho é seu, as histórias são suas. Os Mestres de Luz ensinam que o mundo, as pessoas ao nosso redor fazem parte do cenário de nossa vida, mas que o papel principal é e deve ser nosso.